No consultório: O que entende do amor > Marcos, um publicitário de 42 anos, apaixona-se com muita freqüência. É apaixonado pela paixão, o que declara abertamente. Numa festa conheceu Suzy e em meia hora, claro, já estava completamente apaixonado. Ela, uma pedagoga, séria e desconfiada, não sabia o que pensar, mas se deixava levar pelo ardor contagiante de Marcos. “Será que existe mesmo amor à primeira vista?”, pensava, enquanto se decidia a viver aquela experiência tão nova.
No final da festa, Marcos insistia para que ela aceitasse seu convite inesperado: viajar com ele, dois dias depois, para Nova York onde, segundo afirmava, passariam uma semana inesquecível. Incrédula, Suzy tentou argumentar:
— Mas nós nem nos conhecemos! Você não sabe como eu sou, nem eu sei como você é!
Mais incrédula ainda, ouviu a resposta persuasiva de uma pessoa experiente em paixão:
— Por isso mesmo, temos que ir logo. Vamos aproveitar enquanto a gente não se conhece.

***

Algumas pessoas, como Marcos, desejosas de viver o êxtase que o amor romântico proporciona, mas já prevenidas das surpresas desagradáveis do desencanto, lançam mão de estratégias. É inegável que esse tipo de amor — apoiado na maior campanha publicitária já produzida no Ocidente (novela, música, cinema, teatro, literatura) —exerce um poderoso fascínio sobre nós.

Isso explica o fato de todos buscarem o romance incessantemente, acreditando que sem ele a vida não tem graça. Entretanto, o amor romântico não resiste à intimidade porque a relação não é com a pessoa real, do jeito que ela é, e sim com a pessoa idealizada, com tudo o que projetamos nela.

A convivência torna evidentes as diversas características de personalidade da outra pessoa e, como nem todos os aspectos nos causam admiração, não conseguimos mais perceber o outro tão maravilhoso e idealizado como no início da relação.

Reply · Report Post