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Jose porfiro · @JPorfiro

25th Jul 2011 from Twitlonger

BNDESPar privilegia grandes empresas

7 em cada 10 das principais companhias em que braço do BNDES tinha participação em 2010 estavam entre as 300 maiores

Em quase 40% dos casos BNDESPar figura como acionista há ao menos uma década; política é alvo de crítica

Folha de São Paulo, 24julho2011, caderno Mercado
ÉRICA FRAGA, DE SÃO PAULO - LEILA COIMBRA, DO RIO

Sete em cada dez das principais empresas nas quais o BNDES tinha participação acionária direta em 2010 estão entre as 300 maiores por faturamento no país.
A história do BNDES como acionista -via BNDESPar, seu braço de participações- das empresas listadas em suas demonstrações financeiras de 2010 é relativamente longa. Em quase 40% dos casos, a BNDESPar figura como acionista das empresas há ao menos uma década.
Os dados foram levantados pela Folha a partir da lista divulgada pela BNDESPar das 33 empresas nas quais seus investimentos somavam 85% do total da carteira de participações acionárias diretas do banco no ano passado.
O fato de a BNDESPar entrar com recursos em empresas de grande porte e de algumas participações acionárias do banco se estenderem por muitos anos motiva críticas de especialistas.

LONGE DO MANDATO
Para analistas, o braço de participações do BNDES se distancia de seu mandato, que, segundo documento da própria empresa, é: "Apoiar o processo de capitalização e o desenvolvimento de empresas nacionais (...) principalmente através de participações de caráter minoritário e transitório, buscando oferecer apoio financeiro sob a forma de capital de risco".
"A BNDESPar vem se apresentando mais como uma fonte de recursos para as grandes empresas dos setores eleitos como prioritários pelo banco e menos como uma empresa que visa o fortalecimento do mercado de capitais", diz Rogério Sobreira, professor da Ebape/FGV.
Sobreira também critica a participação de longa duração da BNDESPar em algumas empresas grandes, como Fibria, Copel, Eletrobras, Vale e Petrobras. "É uma longa transitoriedade", ironiza.

COMPRA E VENDA
A atuação da BNDESPar no mercado de ações de forma global (considerando todas as compras e vendas de papéis) é elogiada por analistas do mercado financeiro.
O executivo de uma corretora disse à Folha que os investimentos e as reduções ou vendas de participação (chamados desinvestimentos) têm seguido a boa prática de "vender na alta e comprar na baixa".
O problema, dizem analistas, é o fato de a BNDESPar manter participação significativa em grandes empresas por muitos anos.
A ideia de participações transitórias -ressaltadas pela BNDESPar como parte de seus objetivos- segue a lógica de ajudar as empresas a se fortalecer em um primeiro momento e, depois, caminhar com as próprias pernas.
Segundo especialistas, a longa duração de investimentos -principalmente em empresas grandes- restringe a capacidade da BNDESpar de ajudar as empresas de menor porte, que têm mais dificuldade de se financiar.
Segundo Ruy Quintans, economista do Ibmec, a BNDESPar perdeu sua função original de entrar como acionista em empresas não consolidadas para fortalecer o mercado de capitais.
Para ele, a BNDESPar (e o próprio BNDES) "privilegia setores e empresas escolhidos". "Essas escolhas não estão necessariamente sendo feitas com base no interesse da nação", diz Quintans.

Colaborou NATÁLIA PAIVA, de São Paulo

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"A BNDESPar vem se apresentando mais como uma fonte de recursos para as grandes empresas dos setores eleitos como prioritários pelo banco e menos como uma empresa que visa o fortalecimento do mercado de capitais"
ROGÉRIO SOBREIRA
professor da Ebape/FGV

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Apoio do banco a fusões é alvo de críticas

BNDESPar estava disposto a aportar até R$ 4,5 bi na união entre Pão de Açúcar e Carrefour, que não se concretizou

Auxílio a acordo BrT-Oi também criou polêmica; ex-presidente, Carlos Lessa defende operações como Sadia-Perdigão

DO RIO
DE SÃO PAULO

A BNDESPar esteve envolvida em uma das maiores polêmicas recentes do mundo de negócios: a tentativa de fusão Pão de Açúcar-Carrefour.
A operação terminou frustrada porque o Casino, sócio do Pão de Açúcar no Brasil, opôs-se fortemente à ideia. Isso porque o negócio impediria que o Casino assumisse o controle do Pão de Açúcar em 2012, conforme previsto no acordo de acionistas.
O anúncio da intenção de fusão Pão de Açúcar-Carrefour foi acompanhado pela notícia de que a BNDESPar aportaria até R$ 4,5 bilhões.
Depois de uma chuva de críticas por apoiar o negócio polêmico, a BNDESPar afirmou que só entraria na transação caso houvesse acordo entre as partes e depois de "rigorosas análises técnicas".
O assunto se encerrou quando as negociações foram abortadas.
O ex-presidente do BNDES Carlos Lessa é defensor da atuação da BNDESPar. Mas criticou a intenção da empresa de apoiar a fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour:
"No caso do Carrefour e do Pão de Açúcar, se o BNDES colocasse dinheiro, seria um absurdo. É uma das piores operações de que já tive notícia: ajudar um francês a dar o golpe em outro", disse, em entrevista à Folha.
Essa não foi a primeira vez em que a BNDESPar foi criticada por apoiar fusões de grandes empresas privadas. No caso da união entre Oi e Brasil Telecom, a BNDESPar entrou com dinheiro em uma empresa que passou a ter a concessão de telefonia fixa em 26 dos 27 Estados (exceto São Paulo), reduzindo a competição no setor. A operação precisou até de mudança na lei para se concretizar.
Para Lessa, no entanto, o banco agiu certo em algumas negociações, como na entrada do capital da Brasil Foods (fusão entre Sadia e Perdigão) e também na criação da Fibria (união entre Votorantim Celulose e Aracruz):
"Empresas importantes iam quebrar, ia ser desastroso para o país", disse ele, referindo-se à Sadia e à Aracruz que tinham amargado enormes prejuízos com operações financeiras arriscadas na crise de 2009. (LC e EF)

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OUTRO LADO

BNDESPar afirma que não contradiz objetivos

DE SÃO PAULO

A BNDESPar afirma que suas participações acionárias longas e sua presença no capital de um elevado número de grandes empresas não contradizem seus objetivos.
Segundo informou à Folha, por meio de sua assessoria, o tempo médio em que mantém participação em uma empresa varia de 5 a 7 anos, "havendo casos em que o prazo é maior ou menor".
A BNDESPar ressaltou que tem "foco no longo prazo", embora documentos mencionem atuação via "participações transitórias".
Da carteira de 152 empresas em que a BNDESPar tinha participação acionária direta em 2010, 40 são de pequeno e médio porte.
O levantamento da Folha do tempo de investimento da BNDESPar englobou empresas que representam 85% da carteira acionária do banco, cujos nomes estão disponíveis nas demonstrações contábeis de desde 1997, disponíveis no site da CVM.

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