AOS VENTOS QUE VIRÃO mostra que a discussão sobre o cangaço ainda não está esgotada no cinema brasileiro. Se o foco dos velhos filmes do gênero era muitas vezes o dilema entre ser ou não cangaceiro, o novo filme de Hermano Penna conta uma história exemplar do período após a morte de Lampião. O ex-cangaceiro José Olimpio escapa da perseguição, leva vida de operário em São Paulo e, de volta à Sergipe natal, tenta carreira política até perceber que precisa voltar a ser cangaceiro para lutar contra as estruturas viciadas da democracia interiorana nos anos 1950. A dicotomia entre lei e revolta se apresenta, portanto, no presente e no passado do filme. O desfecho surpreendente faz escorrer uma mancha de sangue sobre os sonhos de normalidade do governo JK. Hermano Penna fez um filme sóbrio e interessante como percurso de um herói trágico, cindido pelas hesitações, a ingenuidade e a culpa. É isso que o impede de se transformar num novo Lula, papel vivido pelo mesmo Rui Ricardo Diaz no cinema. Pena que a narrativa seja apenas funcional, sem muita invenção, e não explique adequadamente a passagem de José Olimpio da condição de operário para a de celebridade em Sergipe. Os estereótipos (o militar impiedoso, o feitor de obras, o político oportunista) também reduzem a eficácia da encenação, assim como a má atuação de alguns coadjuvantes. Bem resolvido tecnicamente, com um pouco mais de cuidado no roteiro e sutileza na direção teríamos um legítimo herdeiro do clássico "O Homem que Virou Suco".
P.S. Não confundir com "Aos Ventos do Futuro", que Hermano Penna realizou em 1987 sobre a questão indígena.

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