Vi hoje um documentário naïf por excelência, o muito elogiado e premiado É NA TERRA, NÃO É NA LUA, do português Gonçalo Tocha. Ele e o técnico de som Dídio Pestana chegaram em 2009 à pequenina Ilha do Corvo, no Arquipélago dos Açores, dispostos a uma missão impossível: filmar cada pessoa, cada animal, cada rua e cada ofício da única cidadezinha local, chamada por alguém de "o mais longe da Europa". Por menor que seja, nenhum lugar pode ser inteiramente abarcado num filme. Mas ok, tomemos essa pretensão como coisa poética, e mesmo assim o filme reitera sua ingenuidade a cada um de seus 15 aleatórios capítulos, totalizando três horas de duração. O tempo de filmagem corresponderia à confecção de uma boina típica para o diretor pelas mãos de uma velha artesã local. É o necessário para Gonçalo e Dídio ouvirem diversos moradores, acompanharem saídas de pesca, filmarem parto de bezerro e matança de porco – aquelas coisas muito simples de que vivem as aldeias mínimas, sobretudo esse pedaço distante de Portugal. O Corvo quase não tem história, já que os arquivos da prefeitura pegaram fogo há muito tempo, e o único historiador do lugar destruiu seus escritos quando perdeu o interesse pelo passado. Gonçalo tenta recolher algumas memórias, mas não parece muito empenhado de fato. A ilha quase não tem árvores e não dispunha então de nenhum equipamento cultural. Os habitantes esperavam dos governos um dinheiro que nunca vinha para as obras necessárias. A longa história de isolamento parece não ter fim. O filme registrou a chegada da primeira lancha de transporte público para servir à ilha e flagrou um pouco da campanha eleitoral, vencida pelo Partido Popular Monarquista. Eis o retrato de um mundo estagnado, ponto final de uma Europa em crise. Gonçalo Tocha quis fazer um filme tão singelo quanto o seu próprio objeto. A intenção é bonita, mas achei o resultado um pouco frustrante, desprovido de sentido de estrutura e bastante delongado. Contra essa opinião, há uma expressiva reputação internacional.

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