MAGIA AO LUAR


Na canção "You Do Something to Me", Cole Porter descreve um encantamento amoroso como um feitiço, um vudu que transforma a vida do apaixonado. Woody Allen usa esse leitmotiv em MAGIA AO LUAR para enredar a plateia com uma espécie de truque, uma magia barata. O encontro do racionalista e cético Stanley (Colin Firth) com a (suposta?) vidente Sophie (Emma Stone) toma ares de discussão filosófica sobre os limites da realidade visível e a existência do oculto. É um terreno fértil para a fabulação midcult de Allen, sempre propensa a investigar o metafísico sem se desfazer da armadura da ironia e da descrença. Qualquer um que tenha visto dois ou três filmes dele sabe que o irracional só dá as caras através do amor, e é essa a magia que de fato se realiza. Um falso conto filosófico fadado, desde o início – e de modo bastante previsível – a se revelar afinal uma historinha romântica com sabor dos anos 1920. Que o ilusionista seja um cruzado da razão e a fraude seja um caminho para a verdade são somente alguns dos paradoxos que Allen maneja com graça, em diálogos que se situam entre os mais deliciosos de sua obra. Um filme menor, sem dúvida, mas não pouco sedutor.

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