Uma pílula sobre TOM À LA FERME, de Xavier Dolan


Antes de fazer "Mommy", exibido no último Festival do Rio, Xavier Dolan realizou TOM À LA FERME (Tom na Fazenda), baseado numa peça teatral de Michel Marc Bouchard. O argumento é fascinante e, em princípio, se amolda à temática habitual do diretor, que é a relação difícil entre mães e filhos. Tom (vivido por Dolan) está abatido com a morte do companheiro e vai à fazenda da família dele para o funeral. Lá descobre não só que a mãe do rapaz nada sabia da escolha sexual do filho, mas também que ele próprio desconhecia coisas importantes sobre o companheiro. A começar pela existência de um irmão, Francis, que vai estabelecer com ele uma relação ambígua de dominação e dependência. Gradativamente o filme coloca o espectador numa densa zona de sombra, num estranho jogo de homofobia, sadomasoquismo e estratégias de desmascaramento, em que o lugar de cada personagem é seguidamente questionado – inclusive o de uma colega de trabalho que vai entrar no terceiro ato da trama. Dolan fez um filme bem mais sóbrio que a sua média, usando pouco da sua retórica estilística habitual e explorando bem o suspense (trechos da trilha sonora de Gabriel Yared emulam Bernard Herrmann). O que desagrada é o costumeiro desleixo de Dolan com a verossimilhança em momentos cruciais de seus filmes. Sobretudo nesse, que depende de muita ação psicológica e física, alguns comportamentos inexplicáveis são furos de roteiro difíceis de perdoar.

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