Uma pílula sobre o incrível documentário INTO ETERNITY


Imagine que há 4.500 anos os faraós egípcios cogitassem de como iríamos nós, aqui no século XXI, compreender e tratar as pirâmides que estavam construindo. Agora coloque essa suposição para um futuro 22 vezes mais distante. Este é o assunto de INTO ETERNITY, um belo e intrigante documentário do dinamarquês Michael Madsen (não confundir com o ator homônimo). Ele trata da construção de um depósito de lixo nuclear na Finlândia, prevista para ser concluída no ano de 2100. Onkalo - este é o seu nome – ficará situado no fundo de um túnel de 500 metros de profundidade e 5 km de comprimento, escavado em rocha sólida. Espera-se que seja capaz de garantir por 100 mil anos a inviolabilidade do material depositado. Se tudo vai dar certo é algo que nem os cientistas envolvidos se arriscam a prever, uma vez que ninguém sabe como o mundo estará daqui a mil séculos. Como alertar as futuras gerações sobre os riscos de se abrir aquela caixa de pandora? Ou será melhor estimular o esquecimento definitivo sobre Onkalo? INTO ETERNITY é um filme sobre as incertezas da Ciência. Os especialistas aparecem mais absortos em dúvidas do que expondo certezas como é de praxe. Madsen constrói seu ensaio como uma carta a um hipotético espectador num futuro longínquo, mesmo sabendo que seu filme vai durar somente uma pequena fração daquele tempo. O doc tem tonalidades herzoguianas (o tema incomensurável, as considerações em primeira pessoa, o ritmo meditativo) e também kubrickianas (a filmagem do túnel e de outros depósitos de resíduos nucleares evoca a ficção científica e sugeriria um título como “2010, uma odisseia debaixo da terra”). Eu tinha gostado muito do episódio de Madsen sobre um presídio norueguês em “Catedrais da Cultura”. Com esse filme viro seu fã e faço coro a João Moreira Salles, que o incluiu entre seus faróis mais recentes.

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