Só recentemente pude ver o biscoito fino norueguês BLIND, que havia perdido no Festival do Rio. Fui bem carregado pela história da professora que, depois de perder rapidamente a visão, se encerra em seu apartamento e passa a viver na imaginação literária aquilo que teme, suspeita e deseja. Com destaque para o sexo. O diretor e roteirista Eskil Vogt nos enreda aos poucos na trama ficcional construída por Ingrid, embora nunca nos afaste da situação que ela enfrenta de fato: o medo da perda de interesse pelo seu corpo. Os limites entre realidade e criação vão sendo borrados na medida em que Ingrid insere o marido em seu enredo e promove transferências, punições e fantasias. Pode não ser divertido como "Adaptação" de Spike Jonze nem complexo como o "Providence" de Resnais, mas tem ótimos insights sobre o terceiro olho da imaginação e as maneiras como podemos fazê-lo atuar de maneira cômica ou dramática. A atriz Ellen Dorrit Petersen é fenomenal na comunicação dos detalhes da cegueira e de uma sensualidade subitamente posta em crise. O resto do elenco não fica nada a dever, como sempre entre os nórdicos.

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