A Semana dos Realizadores exibe hoje (sexta) às 21h30, COM OS PUNHOS CERRADOS, mais uma travessura dos irmãos Luiz e Ricardo Pretti, mais o primo Pedro Diógenes. É o primeiro longa-manifesto do neo-anarquismo trendy. Ou o segundo, se incluirmos "Riocorrente", de Paulo Sacramento, nessa mesma correnteza. Os três diretores-atores fazem um trio de jovens anarquistas que transmitem uma rádio pirata e saem às ruas com lenços no rosto para colocar cartas obscenas nas caixas de correio da alta burguesia de Fortaleza. O nome da capital cearense serve já de signo dos poderes do Capital e da Ordem, contra os quais os meninos se insurgem. O filme tem uma trama típica de policiais mainstream: um patriota direitista e religioso, daqueles bem caricatos, move uma perseguição aos anarquistas e contrata uma strip teaser para seduzi-los e traí-los. O resto é para saber vendo o filme. Em tom de suposta brincadeira, os Pretti-Parente na verdade falam sério sobre a necessidade de "quebrar o espelho" da democracia e superar o capitalismo à margem do Estado. Mas são lúcidos o suficiente para reconhecer a derrota desse ideário apenas negacionista. O vazio das dunas cearenses é o que lhes sobra depois que a guerra é perdida, restando-lhes somente uma voz clamando no deserto, um companheiro morto no caminho e uma bandeira negra empunhada contra o vento. A lembrança de "Terra em Transe" me parece inevitável. O filme inclui uma emocionada e magnetizante entrevista com o poeta e cineasta Uirá Reis ("Doce Amianto"), leitura de textos de Bakunin (não creditado), James Joyce, Artaud, Elie Faure e Oswald de Andrade, além de diversas canções de inspiração anarquista de variada procedência. Nisso tudo, concorde-se ou não com o teor do manifesto, ou mesmo com sua amarga conclusão, existe a energia cinematográfica sempre muito interessante dos filmes da Alumbramento. Tem sempre ali uma combinação de doçura e fúria, uma engenhosidade na construção das cenas e uma sinceridade de propósitos que não pode deixar de nos tocar.

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