Uma pílula (muito) crítica sobre A VIZINHANÇA DO TIGRE


Para mim um filme, melhor dizendo qualquer obra de arte, precisa ter sentido e/ou potência. Sem nenhum dos dois, está fadada ao fracasso. Não vi sentido nem potência em A VIZINHANÇA DO TIGRE, filme vencedor da última Mostra de Tiradentes e exibido agora na Semana dos Realizadores. Com aspirações a Pedro Costa em sua crônica do bairro de Fontainhas, Affonso Uchoa passou cinco anos filmando com jovens do bairro Nacional, periferia de Contagem (MG). Eles aparecem em conversas fiadas, brincadeiras, sessões de rap e pequenas atividades no limite da legalidade. Estão entre a ingenuidade pueril e o culto da violência de classe, entre o documentário passivo e o rascunho de ficção. Mostram marcas de bala e de facadas no corpo, apontam os dedos como armas uns para os outros, cantam ameaças ao mundo dos ricos, consomem drogas, enfim, tudo aquilo que já vimos em tantos filmes do gênero. A proposta de mostrar fatias de vida, valendo-se de uma especial disposição dos atores naturais para se soltarem diante da câmera, é o que mais tem agradado aos apreciadores do filme – e de fato diverte aqui e ali –, mas é também o que o esteriliza na observação impotente que se quer apenas solidária, acrítica, naïf. Além disso, os problemas de comunicação se avolumam pela má qualidade da captação de imagens (uma escuridão indiscernível apresentada como forma de realismo) e de som. Se não fossem as legendas em inglês na sessão da mostra, eu não teria entendido metade dos diálogos nem dos caracteres supostamente legíveis na tela. É preciso dizer, sem medo de soar careta, que o elogio do precário e a adesão populista à vizinhança do crime tornaram-se moeda corrente em certa faixa do cinema brasileiro.

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