Uma pílula sobre ALGUÉM QUALQUER e A GUERRA DOS VIZINHOS


A programação do Cine Joia, em projeção sempre impecável, está trazendo uma face pouquíssimo conhecida do cinema brasileiro atual. Não são as comédias de sucesso nem o jovem cinema de Tiradentes, nem tampouco os chamados filmes médios ou o trash regional. São obras à margem de todos esses mercados, de origens que para mim soam meio misteriosas. Como ALGUÉM QUALQUER, escrito, produzido, dirigido, protagonizado, montado, sonorizado e musicado por Tristan Aronovich e o "Latin American Film Institute" que ele mantém em São Paulo. Um melodrama melancólico que lembra filmes uruguaios, centrado na figura de um faxineiro no limite da demência que descobre o amor tarde demais. Aronovich compõe com propriedade o personagem e demonstra imaginação para uma narrativa estritamente visual, mas acaba se perdendo em recursos repetitivos, clichês de fotografia publicitária e um didatismo narrativo que revolta o estômago. Outro exemplo de filme naïf em cartaz no Joia é a comédia (também paulista) A GUERRA DOS VIZINHOS. Obscura coprodução luso-brasileira de 2010, dirigida por Rubens Xavier, tem no elenco as veteranas Eva Wilma e Karin Rodrigues, a esfuziante Fabiula Nascimento e o português Tony Correia. Carente de qualquer sinal de modernidade, almeja ser divertimento popular mas erra todos os alvos. Tenta fazer graça com senhoras gritando palavrões, empregada roubando receita e marido botando tape de futebol para se excitar com a mulher na cama. Pois é. Ainda existe um cinema brasileiro nesses moldes. Basta ir à simpática salinha de Copacabana para fazer essa arqueologia do presente.

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