Uma pílula sobre MAIS DO QUE EU POSSA ME RECONHECER, novo doc de Allan Ribeiro


Depois do belíssimo "Esse Amor que nos Consome", Allan Ribeiro e seu parceiro Douglas Soares confirmam a sensibilidade para o documentário intimista com MAIS DO QUE EU POSSA ME RECONHECER, que estreou ontem (quinta, 29) na Mostra de Tiradentes. O filme é bastante singelo na realização: registra o pintor e ilustrador Darel Valença Lins, 90 anos, sozinho em sua casa, ocupado com seus quadros e com as experiências de videoarte doméstica que o vêm fascinando ultimamente. Para quem não conhecia esse premiado artista um tanto recluso, é um prazer descobrir aos poucos um amante de Rembrandt e Bill Viola. E também uma pessoa de passado efusivo e que hoje, depois de pelo menos uma tragédia familiar, vive sozinho numa enorme casa no Rio. Não há um interesse vampiresco por detalhes biográficos, mas somente um desejo de estar próximo e captar a essência de uma personalidade. Allan mescla suas filmagens com os vídeos de Darel, criando uma interessante complementação entre o homem filmado por terceiros e o homem que se filma obsessivamente, em busca de imagens da solidão. Uma trilha musical estrelada por Ligeti, Messiaen e Saint-Saëns, entre outros, potencializa as imagens e imprime uma sonoridade evocativa dos filmes surrealistas e dadaístas dos anos 1920, origem de todo o cinema experimental. Essas discretas operações fazem com que a singeleza do processo dê margem a um resultado cativante.

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