Se para mim, que nunca fui muito fã de Cássia Eller – talvez por nunca ter parado para ouvi-la com atenção –, o documentário de Paulo Henrique Fontenelle causou uma profunda emoção, imagino para quem já a amava e admirava. No fundo, CÁSSIA ELLER não foge muito ao padrão de docs biográficos musicais. Abre e fecha com louvores, conta a formação do artista, situa suas grandes viradas de carreira (vários "divisores de água" são apontados para Cássia), pontua a vida pessoal e as características de sua performance, e finalmente entra nos excessos do sucesso e, quando é o caso, na inflexão consternada rumo à morte e sua contraparte, o elogio do legado. Tudo isso está no filme, mas nada soa como clichê de gênero. Talvez porque Cássia já fornecesse, de saída, todos os dados da sua própria dramaturgia: o misto de selvageria e timidez, as mudanças de pele artística através do tempo, a vida loca de roqueira indisciplinada, a surpresa da maternidade, a desmedida dos amores que se condensaram ao seu redor e ainda aquela linda história de amor com Maria Eugênia, que reverberou após seu desaparecimento. Paulo Henrique construiu um roteiro convencional mas super eficiente, que consegue conciliar as diversas Cássias num perfil de imensa simpatia. Tudo estava dado, mas organizar os sentidos e ilustrar cada detalhe com a imagem mais eloquente é mérito do filme. Particularmente, saí impressionado com sua voz, suas atitudes e a lição que ela deixou sobre a liberdade do afeto.

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