VIRUNGA, concorrente derrotado na disputa do Oscar, é um motivo de orgulho para quem faz e ama documentários. O inglês Orlando von Einsiedel é um documentarista e desportista radical que já juntou as duas vocações, por exemplo, em filmes sobre snowboard e skatistas de Kabul. VIRUNGA o manteve ligado durante dois anos nas disputas – não mais esportivas, mas bélicas – em torno do Parque Nacional de Virunga, no Congo. Enquanto por lá estava documentando a luta pela preservação dos gorilas da montanha, voltou a estourar a guerra civil no país e os rebeldes expulsaram o exército da área para ocupá-la militarmente. Com equipe mínima e talento máximo, von Einsiedel consegue fechar todas as pontas de um cenário multifacetado, em que caçadores ilegais tentam dizimar a fauna e rebeldes corruptos procuram se aliar a uma grande empresa de mineração britânica para levantar as barreiras de proteção ao parque e fazer testes sísmicos para exploração de petróleo, botando em risco o ecossistema e a biodiversidade da região. Grandes personagens brotam da narrativa, como o heroico diretor do parque, um devotado cuidador de gorilas, um guarda florestal e uma jovem repórter francesa que se arriscam na coleta de evidências das intenções nefastas da empresa e do esquema armado com os soldados rebeldes. Câmeras ocultas na roupa, registro direto de combates e desespero, e achados dramáticos na selva se combinam num thriller documental de mexer com os nervos e a consciência. Em contraponto a esse corajoso aparato de denúncia, as deslumbrantes imagens da natureza congolesa conferem ao filme uma dimensão épica. VIRUNGA faz a maioria dos outros documentários parecerem pesquisas escolares ilustradas.

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