AU FIL D'ARIANE são as férias de Robert Guédiguian. O cineasta politizado e humanista de Marselha se permite fazer "uma fantasia" inteiramente devotada a sua mulher e atriz perene, Ariane Ascaride. Na mitologia grega, Ariadne instrui Teseu a desenrolar um novelo para saber retornar do labirinto do Minotauro. No filme, Ariane se vê negligenciada por sua família no dia do seu aniversário e parte rumo à região do porto de Marselha. Vai parar num café turístico, onde interage com diversos personagens simpáticos e levemente excêntricos. Vai encontrar um romance, uma causa, a realização de um velho sonho e até uma tartaruga falante com que pode trocar ideias. É tudo estranhamente ingênuo e bastante inconsistente. Guédiguian encontra um pretexto para renegar qualquer compromisso realista e brincar com referências diversas, como as canções dos engajados Jean Ferrat e Kurt Weill, e o cinema de Fellini (Ariane lembra personagens de Giulietta Masina e há uma citação explícita da Fontana de Trevi de "A Doce Vida"). A finalização da imagem carrega nos tons amarelos e a direção de arte complementa com azuis e vermelhos de sonho infantil. Uma mensagem libertária muito cândida perfuma essa recreação antes que a cena final devolva personagens e espectadores à trivialidade da vida.

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