Sobre O SAL DA TERRA


O SAL DA TERRA
O tema talvez fosse mais afeito a Werner Herzog que a Wim Wenders. Pode-se dizer que, em suas aventuras pelos cantos mais distantes do mundo, Sebastião Salgado viajou também no tempo, testemunhando do Gênese ao Apocalipse. É difícil imaginar como um par de olhos pôde contemplar diretamente tanta dor e miséria, algo que é duro até para nós, que vemos tudo mediado pela fotografia. O urso visto de perto, os campos de petróleo incendiados do Kuwait, o fim do mundo em close-up, todo esse acervo tipicamente herzoguiano recebe um tratamento contemplativo no filme codirigido por Wenders e pelo filho do fotógrafo, Juliano Ribeiro Salgado.
Wenders, na verdade, atuou explicitamente como o “olhar externo”. Um olhar, digamos, mais ligado à cultura que à natureza. Sebastião é posto em cena para comentar suas fotos, enquanto as imagens de ação propriamente dita vêm de filmagens de Juliano em fases diversas. Wenders é o fã de longa data que empresta sua curiosidade e admiração pela obra de Salgado, além do nome para engrandecer o projeto.
O Sal da Terra fica ainda melhor se visto em conjunto com Revelando Sebastião Salgado, de Betse de Paula. Esta o flagrou em situações íntimas, em seu apartamento de Paris, e abordou também o trabalho fotojornalístico de Salgado. Wenders e Juliano privilegiaram o aspecto épico de megaprojetos na África, Oriente Médio, América Latina, Amazônia e Nordeste brasileiro. Betse destacou mais o método do fotógrafo, ao passo que Wenders e Juliano enfatizaram a interpetação posterior. Em comum, os dois filmes trazem as belas reflexões de Salgado sobre o mundo – o que faz dele, mais que um coletor, um pensador de imagens. E também a exuberância do Instituto Terra, exemplo de regeneração ambiental que já entrou para a História.
Ambos são, no fundo, filmes de família. Três gerações que dialogam sutilmente na forma como habitam o planeta e o revelam para nossos olhos extasiados.

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