O cinema brasileiro que aspira a maiores plateias está vivendo um impasse do qual PONTE AÉREA é bom exemplo. A um domínio cada vez maior da técnica e dos recursos de interpretação não corresponde a criação de roteiros criativos e consistentes. O drama romântico de Julia Rezende, sobre namorados que se encontram e desencontram entre Rio e São Paulo, não tem muito a apresentar além de charme e clichês. Bruno (Caio Blat) é artista largadão, meio malandro, que viaja de bermuda esfarrapada e camiseta, mora com uns "bróder" em casa bagunçada e conhece "a alma do Rio". Amanda (Letícia Colin) é publicitária, super profissional, meio encucada, que veste chique, mora sozinha num apartamentaço com decoração descolada e personifica, digamos, "a alma paulista". Os diálogos, em grande parte, são frases prontas sobre as diferenças entre as duas cidades. E são essas diferenças que vão aproximar e afastar sucessivamente os dois pombinhos, na medida em que suas posições na relação aos poucos se invertem e Bruno se ocupa de um novo membro de sua família. Não rola mesmo muita química entre eles, pra falar a verdade, já que soam mais como encarnações de ideias preconcebidas do que como gente de carne e osso. Falta vida também às imagens bem compostas e iluminadas entre o turístico e o publicitário. O modelo de narrativa americano dita até mesmo a atmosfera da empresa em que Amanda trabalha e os vínculos familiares de Bruno. O filme inteiro me passou a sensação de vácuo, como se estivesse voando em primeira classe de lugar nenhum para lugar algum.

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