Uma pílula sobre VÍCIO INERENTE


Antes de Paul Thomas Anderson, somente um obscuro diretor alemão ousou levar Thomas Pynchon para as telas ("Prüfstand VII", de Robert Bramkamp, baseado no romance "O Arco-íris da Gravidade"). Expoente da literatura pós-moderna americana com formação em Física, Pynchon é conhecido por suas histórias labirínticas, em que se cruzam referências à cultura real e imaginária do século XX. VÍCIO INERENTE é tido como um de seus livros mais acessíveis, mas não menos cravejados de alusões a pessoas, empresas, organizações, grupos musicais, etc. Basta notar que os diálogos têm quase tantos nomes próprios quanto substantivos comuns. PT Anderson valeu-se da trama policial para fazer uma espécie de filme noir chapado por toneladas de marijuana. Joaquin Phoenix está genial no papel do detetive particular riponga que, fisgado por uma ex-namorada, se mete numa complicadíssima trama envolvendo empreendimentos imobiliários, traficantes de heroína, vendedores de reabilitação, membros da polícia de Los Angeles e todo um clima de paranoia direitista do ano de 1970, quando Nixon era presidente, Reagan era governador da Califórnia e o assassinato de Sharon Tate ainda ecoava por toda parte. Enquanto investe no humor e na exploração de situações quase surreais, o filme dá conta do seu recado. Afinal, tudo aquilo é uma sátira ao universo criminal. As interações entre Doc e o policial Big Foot (Josh Brolin) são especialmente divertidas. Mas quando essa veia se perde, ali pela metade da projeção, não resta mais que uma tortuosa chatice. O estilo particular de PTA não é suficiente para desfazer a impressão de que a coisa está demorando demais a acabar. E quando termina, a gente olha pra trás e só vê fumaça.

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