Uma pílula crítica sobre CINDERELLA, de Kenneth Branagh


Numa época de modernizações e até subversões de contos de fada no cinema, a gente se pergunta por que a Disney quis simplesmente refazer, em live action, a sua clássica animação CINDERELLA. Não há qualquer releitura ou atualização digna de nota numa história que, aliás, ocupava boa parte do recente multiplot-de-fadas "Caminhos da Floresta". Mas quando chega a hora das transformações mágicas de gata borralheira em princesa, abóbora em carruagem de ouro e animais em condutores, aí a gente compreende o projeto. A Disney quis apenas mostrar que é possível abolir as fronteiras entre a animação digital e a encenação real, tornando tudo uma coisa só. É um empreendimento de vaidade industrial, não por acaso dirigido por um dos cineastas mais vaidosos do mundo. Kenneth Branagh desdobra-se em bravuras cênicas, auxiliado por uma direção de arte faustosa, figurinos de cores extravagantes e alguns desvios não muito eficazes para o campo da comédia. Ele falha naquilo que costumava fazer melhor, a escalação e direção do elenco, no qual somente Cate Blanchet brilha palidamente no papel da madrasta. O filme é um espetáculo suntuoso e antiquado, ao qual falta o sapatinho da personalidade.

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