Enquanto estudo de "como damos forma à água e somos formados por ela", o documentário canadense MARCAS DA ÁGUA (Watermark) é raso como um pires. Na verdade, o filme é concebido a partir do olhar do fotógrafo Edward Burtynsky (o mesmo de "Manufactured Landscapes") em seu trabalho de retratar o assunto pelo mundo afora. Assim, visitamos – talvez sobrevoamos seja termo mais adequado – uma barragem gigantesca na China, uma peregrinação de milhões no Ganges, o delta de um rio mexicano transformado em deserto, um campeonato de surf nos EUA, um imenso curtume na Índia, uma comunidade de fazendeiros de mariscos em algum lugar da Ásia, magníficos poços em degraus no Rajastão, arqueólogos do gelo que perfuram o solo da Goenlândia... Enfim, um mosaico de cenários mesmerizantes, filmados com drones, helicópteros e câmeras submarinas. A intenção desse tipo de filme é atingir as consciências a partir do maravilhamento dos sentidos. De todo esse passeio pescamos algumas contradições sociais e equívocos ambientais, mas sempre como mera citação que nunca ultrapassa a tona da questão. Edward Burtynsky não hesita em afirmar que compreendeu o que é a Natureza. Ok, não vamos discutir com ele, mas é fato que o filme não consegue estabelecer essa compreensão para além das imagens colossais.

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