Al Pacino em NÃO OLHE PARA TRÁS e O ÚLTIMO ATO


Al Pacino is back – e não se fala de outra coisa em Hollywood atualmente. Ele nunca parou de atuar, mas há uns bons 20 anos não emplacava trabalhos tão brilhantes em filmes tão bons como NÃO OLHE PARA TRÁS e O ÚLTIMO ATO, ambos em cartaz no Brasil. E ainda tem o elogiado "Manglehorn", de David Gordon Green, e a adaptação da "Salomé" de Oscar Wilde que Pacino dirigiu e estrelou em 2013. Ao contrário de Robert De Niro, Jack Nicholson e Dustin Hoffman, outros grandes de sua geração, Pacino deu a volta por cima da caricatura de si mesmos e, envelhecendo, encontrou personagens adequados a seu tipo de coroa chapado, com um passado enorme por encarar e cabelos de quem acordou agora e não teve tempo de pentear.
Em NÃO OLHE PARA TRÁS ele faz um cantor brega que descobre uma carta de John Lennon endereçada a ele nos anos 1970, algo que poderia ter mudado sua vida. O achado o leva a buscar o filho rejeitado e tentar uma guinada artística, tendo que para isso enfrentar o escrito do destino e o ressentimento familiar. Em O ÚLTIMO ATO (com sofisticada estrutura baseada em romance de Philip Roth), ele vive um ator veterano e decadente, dono de uma estranha compulsão pelo suicídio no palco, que é de repente "salvo" pelo aparecimento de uma afilhada que o amava desde sempre. Retire todo efeitismo de "Birdman" e você terá algo bem melhor em O ÚLTIMO ATO, até pela semelhança entre as carreiras de Simon Axler e do próprio Pacino.
Nesses dois filmes, ele vai em algum ponto que está além da interpretação. Incorpora os papéis com tanta minúcia e propriedade, com tanto prazer e desenvoltura que a gente esquece a distância entre ator e personagem. O único risco é cristalizar um tipo muito particular que pode se esgotar com a repetição. Mas por enquanto é uma das coisas mais competentes, engraçadas e contagiantes que se pode ver nas telas.

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