Carlos Alberto Mattos · @carmattos
25th Apr 2015 from TwitLonger
Mais dois documentários de Denis Gheerbrant
Vi mais dois filmes de Denis Gheerbrant na Mostra Cine Doc Fr. Hoje vou assistir à masterclass dele na Caixa Cultural-RJ.
ET LA VIE é o seu primeiro longa, realizado em 1990/91. Mais que em seus filmes posteriores, neste Gheerbrant está solto no mundo com sua câmera. Não tem pauta nem destino muito certos. Percorre uma vasta região que vai de Marselha a Genebra e filma encontros com gente comum, em sua maioria operários ligados à indústria da mineração. De alguns, obtém histórias memoráveis, como a do rapaz que deixou o "conforto" emocional das drogas e descobriu que estava soropositivo; ou do homem que mostra o seu antigo local de trabalho calcinado por um incêndio na fábrica onde trabalhava. Com outros, conversa apenas rapidamente, o tempo suficiente para colher uma pequena impressão de suas vidas. A uma menina tímida, por exemplo, limita-se a perguntar seu nome. Tudo parece ocasional e imprevisto. Fiapos de existência perdidos em paisagens sem atrativos, numa França e Suíça bem distantes dos cartões postais. Mais que qualquer tema ou dispositivo, o que aproxima aquelas pessoas é estarem ali no filme, dividindo o tempo com as bonitas pausas que Gheerbrant sempre distribui ao longo da projeção. ET LA VIE terá reprise na segunda-feira, às 18h, no CineMaison, seguida de debate com o diretor.
VOYAGE À LA MER, ao contrário, tem um foco bem preciso: as pessoas de classe média que acampam em praias no período de férias. Gheerbrant arma sua barraca, como um veranista solitário, e, câmera em punho, começa a interagir com seus "vizinhos". Embora quase não fale de si mesmo, ele conduz as entrevistas como conversas despretensiosas, sempre à sua maneira: sem separar as entrevistas das atividades cotidianas e misturando-se a outros interlocutores em papos coletivos. As férias no litoral aparecem, então, como um interlúdio de evasão na vida rotineira de jovens trabalhadores e famílias de operários, policiais, etc, ou como "território de caça" para rapazes solteiros. Gheerbrant tem verdadeira adoração pelo banal e nada faz para buscar ou produzir a cena extraordinária. Este filme é mais um de seus elogios à mescla indiscernível de felicidade e ressentimentos que uma conversa amiga sempre pode fazer vir à tona.