Uma pílula sobre PÁSSARO BRANCO NA NEVASCA


Freud jamais imaginou que os sonhos pudessem servir de pistas para o desvendamento de um crime, mas PÁSSARO BRANCO NA NEVASCA coloca essa possibilidade em cena. Meu colega Luiz Fernando Gallego, crítico e psicanalista, me explica que os sonhos podem, isso sim, ser manifestações de uma hipótese recalcada que aflora no inconsciente da pessoa que sonhou. No filme, se a psicanalista vivida por Angela Bassett assegura que os sonhos não têm necessariamente um significado, o investigador encarregado do caso discorda da afirmação. Assim, entre o divã e o detetive, entre Eros e Tânatos, entre o drama familiar e o thriller criminal, Gregg Araki forja mais uma visão do inferno suburbano americano, um mundinho de tédio pre-programado, afetos falidos e pulsões sexuais dissimuladas. O tesão é o que move todos os personagens, a começar pela jovem Kat (Shailene Woodley, a ninfeta da vez em Hollywood), que se vê perdida quando a mãe (Eva Green) desaparece misteriosamente e o namorado passa a rejeitar seus convites para a cama. O mistério se adensa gradativamente, apesar de alimentado por flashbacks bastante convencionais narrados por Kat. O argumento, embora vulgar, desperta certo interesse inicial, mas os problemas do roteiro se agravam quando o enredo dá um salto de três anos, e os clichês e implausibilidades se multiplicam. Isso vai até um final desastroso, que transforma a trama potencialmente hitchcokiana numa mera piada de efeito.

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