O título original de O CIDADÃO DO ANO é "Kraftidioten", expressão intraduzível que designa especialistas em determinado assunto ou tarefa mas que são completos idiotas em relação ao resto. O título internacional também é irônico, "In Order of Disappearance", invertendo a costumeira ordem dos créditos de elenco por entrada em cena. Qualquer que seja a versão, aponta para uma qualidade que demora um pouco a aparecer no filme de Hans Petter Moland: o humor. Os 20 minutos iniciais são de um thriller banal: um pai começa a matar os envolvidos no assassinato equivocado do seu filho, com a constante de rostos transformados em lasanhas de sangue. É nauseante, pensei em sair do cinema, mas lembrei que havia lido em algum lugar que o filme era "divertido". Valeu a pena ficar e assistir à completa virada de tom. Ainda assim, não sei se aquilo é exatamente uma diversão. A caricatura das gangues – uma norueguesa, outra sérvia, com Bruno Ganz no papel de um godfather balcânico –, as alusões preconceituosas dos personagens a imigrantes e países quentes, o frequente irrompimento de uma violência tarantinesca on the rocks, tudo convoca o distanciamento do espectador, o riso truncado, o prazer incômodo. Rir dessa comédia criminal é como abrir caminho na neve: exige esforço e resistência ao frio.

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