Uma pílula sobre DOIS CASAMENTOS, de Luiz Rosemberg Filho


Há 32 anos Luiz Rosemberg Filho não fazia um longa. Sua produção vinha sendo de curtas em vídeo, colagens gráficas (veja alguns de seus postais-colagem nessa edição da Filme Cultura) e textos, estes geralmente indignados com a rendição do mundo – e do cinema brasileiro em particular – à mediocridade dos sistemas. Graças ao estímulo do produtor Cavi Borges, Rosemberg volta agora aos longas com DOIS CASAMENTOS, filme-performance modesto na produção mas ambicioso na enunciação. Passa hoje (quarta) às 19h na Semana dos Realizadores. De certa forma, é mais um manifesto do diretor contra o império das aparências, os sonhos pequenos de sucesso convencional e as "representações baratas da felicidade". Duas noivas aguardam os noivos e convidados, que nunca chegam. Enquanto isso, a experiente Carminha (Patrícia Niedermeier) tenta convencer a bancária interiorana Jandira (Ana Abbott) a admitir que o casamento está "impregnado pela morte", principalmente num "mundo governado pela demência" e num país "governado pela melancolia". É Rosemberg puro, falando pela boca da personagem. Esse discurso é quebrado por rudimentos de dança e uma tentativa de sedução, sob o pretexto de que o amor homossexual seria uma quebra radical de convenções. É o que abre espaço para alguma nudez, elemento que, junto às falas inconformistas e às citações literárias, vem compondo o universo criativo do autor já há algum tempo. Entre os atos de vestir-se e despir-se, falar e escrever na pele, Rosemberg reitera sua voz de resistência ao naturalismo e à banalização do corpo.

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