O GORILA me reconcilia com o cinema de José Eduardo Belmonte. Desde "Se Nada Mais Der Certo" ele não abraçava um material à altura de sua criatividade. O encontro com a novela de Sergio Sant'anna é a oportunidade para um filme altamente sensorial, cheio de erotismo cinemático e legitimamente delirante. Um filme de vozes, bocas e dentes. Otávio Müller está deslumbrante como o dublador assombrado pela culpa diante da mãe e que preenche a solidão fazendo ligações provocantes para desconhecidos. Ao sofrer uma ameaça, ele desaba e perde as noções de realidade, espaço e identidade. Suas cenas com Alessandra Negrini são notáveis e constituem a alma do filme. Tudo se apresenta como um constante pesadelo, vagueando entre pessoas e espectros, vozes e ecos, depressão e paranoia, encantamento e cortes perversos. Apesar de algumas discretas "barrigas", o roteiro nos transporta num fluxo quase ininterrupto a bordo dos supercloses e requintes fotográficos de Bárbara Alvarez e de uma espantosa trilha sonora de clássicos e contemporâneos. Realizado dois anos antes de "Alemão" e logo depois de "Billi Pig", O GORILA nos faz esquecer aqueles dois filmes e festejar o reencontro com um dos mais talentosos cineastas brasileiros.

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