O CONTO DA PRINCESA KAGUYA é uma animação anti-Disney e anti-Pixar por excelência. A começar pela técnica, baseada na estética da pintura japonesa, levada a cabo artesanalmente pelo diretor Isao Takahata e sua equipe durante oito anos no Studio Ghibli. As cores suaves e as formas "antiquadas" em nada se parecem com a animação de massa (refiro-me a público, não à massa de modelar) produzida em computadores. O ritmo, pausado, com longos diálogos e canções melancólicas, tampouco se assemelha ao do modelo americano. E a história, nem se fala. A lenda do cortador de bambu que encontra uma menina em miniatura num broto de bambu e a cria como princesa encerra várias mensagens pouco afeitas à auto-ajuda onipresente hoje em dia. A ambição desmedida do pai adotivo, a desonestidade dos pretendentes ao coração da moça, a maldição da nobreza comprada pelos novos-ricos, tudo isso culmina numa denúncia da utopia representada pelo mundo perfeito dos seres lunares. Enquanto se depara com uma história de separação, triste e sem remissão, o espectador compreende que as imperfeições são necessárias à felicidade, e que só a convivência da dor com a alegria fazem a verdadeira vida. Não sei o que as crianças vêm achando dessa história que se desenrola por 137 minutos sem afagos sentimentais, sem hiperatividade e sem os penduricalhos do 3D.

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