Em CAMPO DE JOGO, Eryk Rocha filma uma partida de futebol sem dar muita importância para a bola. De saída, ele altera profundamente a lógica dominante para câmeras e olhos, que é seguir a pelota para onde ela vá. Eryk se fixa, porém, nos rostos dos jogadores, no vai-e-vem e na dança dos pés sem bola, em detalhes que usualmente passam desapercebidos (o jogador "limpando" o chão antes de bater uma falta, por exemplo), na movimentação dos espectadores ou na superfície do campo de terra da comunidade em Sampaio. Estamos acompanhando (se é que podemos usar esse verbo) a final de um campeonato entre times de favelas do Rio. Às vezes uma câmera entra em campo e quase se embola com os jogadores, mas na maior parte do tempo o que interessa é compor uma espécie de suíte audiovisual com os corpos em ação e uma trilha sonora baseada em ruídos de trem e disparos, riffs de tensão, batuques afro, gritos de técnicos e comentários de circunstantes. A intenção de oferecer uma dramaturgia diferente para o filme de futebol começa a fazer água quando entram flashes de outros jogos, vinhetas encenadas e música clássica e operística. A unidade do jogo principal se quebra em troca de digressões de menor importância. A grande final do torneio simplesmente não sustenta a arquitetura mais ambiciosa que Eryk e seu montador Renato Vallone quiseram levantar. Como os recursos de edição se repetem desde o início, a narrativa chega a um ponto onde não tem mais como progredir. O fluxo fica aleatório e o filme ganha uma cara de zero a zero.

Reply · Report Post