Que eu saiba, A VIAGEM DO BALÃO VERMELHO, de Hou Hsiao-Hsien (2007), não foi lançado por aqui em nenhum suporte. Uma pena. É um filme de rara delicadeza e descompromissada poesia, que flui como um balão de gás nos caprichos do vento. Para homenagear o clássico média-metragem "O Balão Vermelho", de Albert Lamorisse (1956), HHH não só reedita o balão sobrevoando Paris, como reúne outras referências (música, quadro, grafite) à presença do tal "ballon rouge" na cultura parisiense. Dessa vez, o menino não está sozinho. Compartilha as visões do balão com uma babá chinesa metida a cineasta (Song Fang, que em 2012 dirigiria "Memories Look at Me"). É como se dividissem o mesmo sonho, ele pela fantasia, ela pela arte. Em contraste com o plano onírico dos dois, está a mãe do garoto (Juliette Binoche), uma mulher atarantada com assuntos bem concretos como o trabalho, o ex-marido, uma filha distante e um locatário caloteiro. Ela é dubladora de teatro de bonecos, eco de outro filme de HHH, "O Mestre das Marionetes", mas também uma variante do balão movido por um efeito cuja origem não se vê. O filme inteiro, na verdade, se compara àquela esfera escarlate que flutua e desaparece para ressurgir em outro momento e espaço, sem função nem objetivo, mas que carrega inevitavelmente o nosso olhar embevecido. O estilo casual e diáfano do diretor, as imagens rebatidas em reflexos, a extrema naturalidade da encenação nos levam para bem acima do chão, numa viagem sem mapas. A cópia não é lá essas coisas, mas o filme está completo e legendado no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=8_eHzg06ddc

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