O ÚLTIMO POEMA DO RINOCERONTE é mais um grande filme iraniano. Bahman Ghobadi é o diretor do também ótimo "Tartarugas Podem Voar" - e numa cena desse novo filme ele confirma sua obsessão com essa possibilidade. No centro da história está um poeta curdo-iraniano (inspirado em personagem real) que ganha liberdade após 30 anos de prisão e, dado como morto há mais de 20, sai à procura da mulher (Monica Bellucci). Ela vive agora em Istambul e tem uma profissão misteriosa. Gobadi narra esse possível reencontro com uma parcimônia dramatúrgica admirável, mas também com um grande apetite poético para quebrar a realidade em dois tempos e em reflexos abundantes que exprimem os ecos de memória e as lacunas de conhecimento de Sehel, o poeta. Uma segunda história de amor, igualmente dolorida, tangencia a de Sehel, insinuando-se na ruptura política da revolução islâmica, em 1979, e fazendo com que o filme alcance um registro emocional poderoso. Às vezes fica a impressão de um rebuscamento narrativo exagerado para a simplicidade da história, mas a beleza ininterrupta das imagens acaba compensando essa tendência ao efeito. Uma curiosidade: o ator protagonista, Behrouz Vossoughi, é radicado nos EUA, onde costuma fazer papéis de terrorista.

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